quarta-feira, maio 21, 2008

 

40

Hoje faço 40 anos.

Num passado não muito distante mas em que este presente me parecia tão longínquo que era quase impossível imaginá-lo, esta idade assumia a forma tangível duma linha. Havia o "daqui até lá" terreno que calculava conhecer e conseguia projectar e o "a partir daí", território inóspito, intangível, quase místico, tão misterioso. Acho que me assustava um pouco. Já disse que a minha mãe falava dos seus 40 anos como a fase mais feliz da sua vida. E isso podia ser, se eu deixasse, praticamente aterrador. Num esforço de fantasia, via-me aos 40 e não me era possível sentir-me feliz. E, naturalmente, nem queria pensar nisso.

Desde há um ano que anseio pelo dia de hoje. Ao completar 39 lastimei o tempo que ainda faltava e consolei-me com a ideia - de que o meu pai tanto gostava - de que o dia a seguir era já o primeiro dos 40... Na verdade, penso que ainda estava cheia de medo de não ser exactamente real. De eu não ser exactamente real. Como se esta idade pudesse lançar alguma espécie de feitiço sobre o meu discernimento e, por isso, me fosse possível viver com a convicção da felicidade.

Afinal foi preciso mais um ano. Às vezes o meu pecado ainda é a impaciência, a veleidade de querer saber tudo já. Para controlar, ou ter a ilusão de controlo, só pode ser. É que hoje não sinto medo de nada! Estou tão completamente feliz que, verdadeiramente, não há como falar disso sem subestimar o que me vai cá dentro, sem lhe retirar a parte que as palavras não abrangem. Pelo menos não as minhas.

Sou, aos 40 anos, naquela idade em que, para mim, se afere a felicidade, uma mulher realizada, plena, preenchida, madura, confiante. Não me falta nada. Nada de nada. E sinto-me infinitamente maior do que o meu corpo. Como se de cada uma das minhas extremidades rompessem raios de luz.

Raios que me ligam à terra. Que me dão sustentabilidade. Raios que me projectam nos céus. Que me dão transcendência.

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