quinta-feira, outubro 27, 2005

 

NUM, TUDO JUNTO!

Eu escrevo um póste, por causa de tantos pâussetesses que já escrevesteis. Entrasteis pela minha vida adentro, tomasteis conta do meu coração e fazeis-me ansiar pelo dia da restauração da dependência e abolição das saudades. Mas, para já, meu anjo, tira daí a mão que ainda não estou pronta para pubicar.

segunda-feira, outubro 24, 2005

 

A FALTA

Quando lhe falei deste espaço, uma amiga muito querida pediu-me um post. Que escrevesse sobre a importância dos amigos na minha vida. Não sei se hoje é um bom dia porque acordei saudosa. Ou nostálgica. Que nem sempre sei bem a diferença. Sei que tenho saudades dos meus queridos que me morreram, quase todos cedo demais. Sei que tenho nostalgia da infância, da dor aguda e penetrante das picadas das formigas enormes, pretas, luzidias que tinham um cheiro próprio, delas ou misturado na minha memória com o cheiro do vinagre que me ensinaram a esfregar nas babas para amenizar aquela sensação mista de dor e comichão impossível de apaziguar. Tenho nostalgia do cheiro a madeira do refeitório do colégio, dos dias inteiros a torrar ao sol na praia de Carcavelos quando as férias grandes eram de 4 meses e só queimava as costas porque os gajos bons sentavam-se na esplanada e era preciso controlá-los, das festas da JC, da insónia de Dinintel, de me vestir de preto, usar eyeliner e cheirar a Jean Paul Gaultier porque me aconteciam sempre coisas quando saía assim. Sinto nostalgia até de coisas más. Que mórbido! Como posso senti-la na lembrança do desespero de amores não correspondidos, do desvario das noites em claro a estudar e a pedir "meu Deus, meu Deus! eu juro que, se me ajudares, só mais desta vez, nunca mais estudo só na véspera"?...

A diferença talvez resida na forma como sou acometida por uma ou pelas outras. A nostalgia é, indubitavelmente, um sentimento doce. Que aquece e embala. Que me faz sentir rica porque cheia de memórias, a que posso regressar sempre que quero. De acontecimentos, situações, pessoas que fizeram de mim o que sou hoje. E é sempre um prazer. E as saudades? Essas doem. De forma atroz, incontornável. Assolam-me. Absorvem-me. Dão cabo de mim. Tiram-me toda a capacidade anímica, anulam-me qualquer esforço de vontade. Congelam-me.

E enquanto escrevo, decido. Hoje, sem sombra de dúvida, acordei com saudades. E é por isso, querida Choux, que ainda não é hoje que escrevo o post sobre os amigos.

quinta-feira, outubro 20, 2005

 

QUERIDA QUADRÚPEDE

(post muito, muito pessoal)

Desculpa responder-te assim aqui. Mas, nunca se sabe... talvez sirva a mais alguém aquilo que tenho para te dizer.

Não sei como é com as outras mulheres que escolhem amar mulheres. Acho até que o uso da palavra escolha poderá suscitar em algumas delas uma reacção um pouco empolgada por considerarem que não há escolha nenhuma, que o que é... é! Mas não quero ir por aí, não me interessa nada essa discussão, não me acrescenta nada nem ao carinho que tenho pelas pessoas de quem gosto e são homossexuais. Adiante, portanto!

Eu não sou lésbica. Nunca fui. Para os aficionados dos rótulos, serei bissexual. Seja... Para quem fizer muita questão! P'ra mim, tanto faz. Assim sendo, penso que posso falar-te do alto das minhas convicções de verdadeira quadrúpede... ao quadrado! Já amei (e de que maneira) homens. Por eles sofri, chorei, babei e ranhei tudo a que tive direito em amores impossíveis, desses de que falas e que não dignificam nada a nossa imagem. Nem a auto nem a hetero... E aconteceu-me exactamente a mesma coisa quando amei mulheres que me rejeitaram, que não quiseram saber de mim nem do meu amor tipo "dava a vida por ti". A diferença é zero. Porque a origem dessa entrega é sempre a mesma, com a mesma forma, a mesma maneira de amar. E deixamo-nos manipular e envolvemo-nos emocionalmente (como tu dizes que acontece com os homens). A questão leva-nos a uma encruzilhada. E temos três escolhas (imenso, para quem, normalmente e nessas situações, se sente num beco sem saída): ou não fazemos nada e arriscamo-nos a passar a vida em lamúria ou aceitamos a nossa condição de amantes sofredoras (que parece igual à primeira opção mas não é) ou tornamo-nos umas pessoas exigentes, que não se contentam com um viver à "Espanca" e descobrem muito bem o que querem e não aceitam nada menos.

Sendo esta a escolha, tenho para mim que não interessa nada o sexo de quem nos fará felizes. Claro que isto não passa da minha opinião. Minha mesmo. Da minha pessoa. Sem ter nada a ver com o que sei por outras vias nem com o que a profissão me compromete.

O amor que vivo agora só é assim magnífico como tu podes testemunhar porque é vivido por duas pessoas que têm uma data de cicatrizes. Que decidiram dar importância apenas ao que é essencial. Que não têm tempo a perder com coisas triviais. Que estão muito certas do que sentem por si próprias e, por causa disso, sabem o que sentem uma pela outra. E saber o que sinto por mim, é aceitar-me como sou. Cheia de podres. Que, por serem meus, amo como tudo o resto que faz o "mim".

Por isso, querida amiga, é absolutamente indiferente que repenses a tua orientação sexual. Mas podes fazê-lo... Sempre te duplica as probabilidades de seres feliz.

sexta-feira, outubro 07, 2005

 

O PONTAPÉ NOS TOMATES

(reflexões de uma cabeça em insónia, carregada de TPM)

Quem me conhece sabe que adoro ser mulher. Sinto-me, dizem-me, sou feminina até ao osso, à camada sub-cutânea, às sub-mucosas!... Bom! Não serei histerionicamente feminina. Espero... Mas encho-me de imenso orgulho, misturado com um inominável prazer, quando me lembro da minha condição e de tudo o que isso significa e acarreta. Cada átomo de mim pulsa perante a infinidade de hipóteses que, porque sou mulher, a vida me oferece. Nunca, em momento algum da minha vida, me senti excluída, inferiorizada, menosprezada ou outra coisa qualquer assim desagradável. Antes pelo contrário. A minha vida de mulher tem-me dado muito mais do que imagino que teria enquanto homem. Vernizes, por exemplo...

No entanto, desde pequena que tenho uma fantasia. E o pior é que é daquelas que nunca vai poder tornar-se realidade e que, talvez por isso mesmo, me persegue recorrentemente. Adoraria viver um dia da minha vida como homem. Não é viver como se fosse um homem. Não é vestir-me, falar, comportar-me como um. Era mesmo ser um homem. Por um só dia. Para poder saber como sentem, como vivem, como é o mundo para eles. E trazer, de volta ao meu género feliz, como prova vívida da experiência, a sensação... de um pontapé nos tomates!

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